Terá o Indivíduo de hoje capacidade de se visualizar, de se olhar, como se de um filme mental se tratasse tentando perceber se a sua vida enquanto ser único e igualável tem ou não um sentido, uma orientação, uma meta.
Terá o Indivíduo capacidade para este alcance e esforço interior? Terá o Indivíduo essa frieza e coragem, condições ”sine quo nom”, para se auto-analisar quer nos seus princípios, comportamentos, atitudes e valores.
Falamos na linguagem do senso comum tão repetidamente nas deficiências, nos erros que o outro comete ou produz, rotulamos e etiquetamos de bom ou mau as acções que os outros á nossa volta produzem e esquecemos que nós próprios, que o nosso Eu actua e procede da mesma maneira quando ao longo da nossa vida vezes sem conta fraseamos ”podia ter agido de outro modo”, ”não tomei a decisão mais digna”.
Chegar-se a alcançar a necessidade criteriosa de “Olhar para as nossas pegadas” e questionar-mos o sentido que damos ás nossas acções realizadas, parar o relógio do nosso pensamento que nos guia para reflectirmos a interioridade do nosso Eu e após este desafio atingido sermos susceptíveis a mudanças, é porventura o maior desafio que na Sociedade de hoje se impõe ao Indivíduo. É, sem dúvida, uma missão pessoal que se impõe substanciar, mas desejável.
A descoberta de como Eu sou e como me dou a conhecer ao Outro, são criações diferenciadas e distintas em significado.
A dúvida reflexionista deste novo século, deste novo indivíduo reside em saber se nos conhecemos a nós próprios, terá o Indivíduo vontade e necessidade de equacionar os sentidos da sua vida, das suas acções, valores e princípios? Este medo inquietante de não me perceber a mim próprio, de não justificar as minhas pegadas só nos leva a nunca sermos capazes de nos culparmos e de não avançarmos na construção de um Eu diferente, novo, com novos sentidos e orientações.
Assim, se agirmos pela vontade de não controverter o nosso Eu, é sermos coniventes com as nossas falhas, logo torna-se impossível a efectivação do acto posterior que é apreender consciência de querer mudar-me.
Tão mais fácil seria a nossa obrigação que aqui atento ao Indivíduo avaliar se não fosse o Eu que estivesse em causa mas sim o Outro. A grande questão de fundo é forçosamente o não existir de um compromisso que assegure o examinar dos nossos passos, das nossas pegadas e quanto mais tarde o Indivíduo se aperceber da importância e necessidade de se questionar, de se descobrir, de se auto-analisar, mais tempo o Indivíduo leva a produzir mudanças em si mesmo, mais tempo leva a descobrir novos desafios para o seu Eu, enfim, mais pegadas vai deixando sem nunca as reconhecer ou entender o seu sentido.
Deixar as Sociedades progredirem em função de valores, princípios e atitudes individuais não avaliadas e questionadas é bastante perigoso no sentido de se correr o risco de não existir identidade entre cada Sociedade e os homens que nela vivem.
Hoje, e olhando para a sociedade portuguesa é visível a carência de valores e sentidos colectivos, a doutrina do egoísmo e o consumismo materialista ilimitado definem o Indivíduo como um ser conflituoso, nervoso, alterado e desprendido de deveres.
As interrogações são o instrumento de uso individual que permite a cada um de nós melhor conhecer quem nós somos, aquilo que somos e fundamentalmente permite descobrir os sentidos para o que pretendemos ser futuramente.
Mas existe um conceito que associado a todo este esforço interior e contínuo de nos levar ao conhecimento de quem somos, de nos encontrarmos com o Eu verdadeiro, ainda não foi focado e é factor implícito que é a disponibilidade para a Mudança.